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10 de outubro de 2005

Finalmente o silêncio...

Finalmente o silêncio. Depois de algumas semanas de intenso arraial, onde se viu aquilo em que a ânsia de poder, tanto para o bem com para o mal, transforma o homem. Foram semanas em tudo parou e se concentrou nas discussões acessas do acessório, atónitos pelo moralismo e autoridade revelada por alguns, segundo Louçã, “candidatos-bandidos” que mesmo investigados ou fugidos à justiça falam do alto do cavalo, parecendo mesmo detentores da razão e guardiães da democracia. Mas tirando esses mestres do caciquismo, na sua expressão mais baixa, o restante país revelou a sua maturidade democrática, votando em grande número, civilizadamente, sem boicotes e, acima de tudo, tranquilamente. Assim, apesar de alguma instabilidade social, que creio seja artificial e na onda do discurso catastrófico da “tanga” e do “fio dental”, os portugueses demonstraram que sabem o que pretendem e em quem votam. No entanto gostaria de deixar algumas notas relativamente àquilo que achei menos bom, e que não se liga directamente a esta campanha eleitoral, mas sim às campanhas eleitorais em geral. Aqui vai:
  1. Deveria passar a haver um limitador de decibéis nos carros que andam com aquelas grafonolas no tejadilho. Digo isto porque na sexta-feira ia dando em maluco pois tive que fazer uns 10 Km a passo de caracol atrás de uma dessas máquinas infernais. Ainda me martela no cérebro aquela voz e música de cana rachada, fazendo-me pensar que a situação ideal era que em vez de megafones, esses carros deviam estar equipados com som de alta-fidelidade… ao menos apreciava-se a qualidade do som e a poluição sonora diminuiria drasticamente.
  2. Deviam ser banidos cartazes de mau gosto, sem sentido estético e com slogans no mínimo surrealistas… para perceberem do que falo podem visitar um excelente “blogue” criado pela equipa do Sapo (veja a ligação no fim, porque senão não acaba de ler o meu “peixe”).
  3. Esta é completamente inconstitucional e antidemocrática, mas no entanto poderá servir como reflexão. Alguns candidatos deviam ter que prestar provas, tipo exame psicotécnico, para demonstrarem se sabem ao que se estão a candidatar e se sabem quais são as competências dos órgãos a que se candidatam. Assim, só no caso de terem uma classificação superior a 10 valores, em 20, é que podiam ser admitidos como candidatos.
  4. Os candidatos deviam estar proibidos de expressar dotes artísticos, habilidades de ilusionista ou capacidades esotéricas. Acima de tudo deviam estar proibidos de cantar “A Portuguesa”… se a querem cantar e não sabem, contratem uma cantor(a) profissional ou amador, mas que tenha boa voz. Cantar mal “A Portuguesa”, goste-se do hino ou não, por mais bem intencionado que se seja, é um sacrilégio…
  5. Os candidatos, pelo menos alguns, além dos exames psicotécnicos, deviam ter aulas, não digo de etiqueta, mas ao menos de boa educação, factor elementar dos Estados desenvolvidos e dos bons democratas. Boa educação tanto na vitória como na derrota só os honra.
  6. Deviam ser estimuladas as “arruadas”, em especial aquelas onde figuram cabeçudos e artistas de circo, em detrimento das caravanas automóveis que apenas contribuem para a poluição atmosférica e sonora, e parecem ser um modo dos candidatos fugirem ao contacto com as populações. A “arruada” é a campanha genuinamente portuguesa e, como foi demonstrado pelas televisões poderá tornar-se numa grande atracção turística. Já estou a imaginar de quatro em quatro anos promoções turísticas na Alemanha, Dinamarca, Suécia, entre outros, para assistirem às campanhas eleitorais em Portugal. A ideia é idiota, mas era capaz de vingar…
  7. Em caso investigação judicial, o cidadão perderia o direito de se poder candidatar, podendo fazê-lo imediatamente após o tribunal determinar a sua inocência. Sei que a justiça, e bem, presume a inocência de qualquer pessoa até a culpa ou não “transitar em julgado” (adoro esta expressão, sublime) e poderá chocar com os direitos constitucionais. Digo isto apenas para bem dos políticos, pois por vezes necessitamos de abdicar de direitos e fazer sacrifícios para sermos respeitados e contribuirmos para o desenvolvimento do país.
  8. Os cidadãos deveriam ser “obrigados” a votar. Caso o não fizessem perderiam o direito à greve e acesso aos serviços não fundamentais do Estado. No primeiro caso porque se não votaram em ninguém excluem-se da sociedade democrática e como não participaram no acto eleitoral e nem sequer elegeram ninguém perderam o direito de reivindicar o quer que seja. No segundo, novamente porque se colocaram à margem do processo democrático, característica fundamental da nossa sociedade, apesar de não perderem os direitos sociais, não poderiam pedir passaportes, certidões várias e que lhes complicariam a vida profissional ou o seu lazer no exterior, por exemplo (uma coisa boa que o Brasil tem, esta).
  9. A cada eleição, e fora delas, fica provado que um "canudo" ou erudição de alta cultura não trazem boa educação, inteligência e saber estar em democracia.
São estas algumas ideias que deixo à consideração de não sei quem, mas pronto disse o que penso. Já agora, e puxando a brasa à minha sardinha, o candidato eleito do círculo onde vota chegou a falar do património cultural, em especial arqueológico, na campanha? Responda nos comentários, se não se importar… é uma curiosidade que tenho. Cá fica a ligação para o Autárquicas em Cartaz do Sapo.

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